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Todos sabemos, ou deveríamos saber, as origens e as causas das imensas dificuldades enfrentadas pelo Estado brasileiro para implementação de políticas públicas capazes de nos elevar a um patamar de desenvolvimento social e econômico condizente com nossas potencialidades e riquezas, o que implicaria vencer em definitivo os imensos fossos que nos separam. Fossos que tanto dizem respeito aos nossos nacionais quanto às nossas diferentes regiões. Somos, e não me canso de repetir, um país torto, desigual, desequilibrado, social e economicamente injusto.
As reformas imprescindíveis não foram feitas e a riqueza cada vez mais se concentra nas mãos de uma minoria. Trabalhamos para pagar o serviço da dívida pública interna, isto é, para manutenção do rentismo. Nisso se esvaem recursos orçamentários que deveriam ser destinados a obras de infraestrutura, à educação, à ciência e à pesquisa.
Nosso sistema tributário é injusto e onera mais quem menos pode pagar. A sonegação campeia, dificultando ainda mais qualquer possibilidade de readequação da carga tributária (se acabássemos com a sonegação, poderíamos reduzir em 30% a carga dos nossos tributos, mantendo o mesmo nível arrecadatório). Mas isso passa ao largo das discussões com a sociedade.
Enquanto isso, espanta-me ver, ler e ouvir sonegadores contumazes que se arvoram, sem que lhes tenham concedido qualquer legitimidade para isso, em porta-vozes de determinados segmentos econômicos e deitam falação sobre regras morais e padrões éticos. E vejam que, morando na aldeia, conheço os caboclos. E por conhecê-los - no meu caso também por dever de ofício - sei quem cumpre e quem não cumpre seus compromissos fiscais e tributários. Sei quem paga e quem não paga.
E dentre os que não pagam, aqueles, que por dificuldades econômicas e/ou financeiras eventuais, decorrentes de fatores conjunturais, se veem enleados em circunstâncias restritivas ou impeditivas do desenvolvimento normal de suas atividades e da possibilidade de pleno atendimento de seus compromissos. Esses, muitas vezes, precisam optar entre o pagamento de salários aos empregados (acho esse papo de "colaboradores" meio hipócrita), seus fornecedores ou as obrigações fiscais.
Mas conheço, é óbvio, quem não paga porque não gosta de pagar, quem omite, quem frustra, quem usa mecanismos de elisão fiscal, quem, para fraudar, se desfaz maliciosamente do patrimônio. Conheço quem sonega porque gosta de sonegar ou porque entende que o Estado, de quem cobra com veemência educação, saúde, segurança e outros tantos serviços, atende mal ou desatente suas expectativas em relação a tais prestações, como se sonegar fosse solução para as más escolhas feitas quando elegemos agentes políticos e gestores públicos. Mandatários que formulam, implantam e administram políticas públicas que deveriam dizer respeito aos interesses da integralidade dos cidadãos e não apenas a segmentos privilegiados que, historicamente, se locupletam às custas desse mesmo Estado que, não raro, combatem com ardor e chavões mercantilistas em velhos e decorados discursos de louvor ao deus-mercado.